"É a verdade o que assombra
O descaso que condena
A estupidez o que destrói
Eu vejo tudo o que se foi
E o que não existe mais."
E tão pouco tempo havia passado. Tanto medo. Os sentimentos embaralhados. A ausência. De quem mais ela esperava estar. Não. A ausência. E os dias sendo levados. Pelo tempo. Pela obrigação. E agora eles estavam ali. Os dois. Sentados na calçada. Ele tentava tirar a música. O violão. A voz baixa. Seguindo a letra do caderno imenso. Ela. Abraçada aos joelhos, com o queixo sobre eles. Eles estavam ali. Mas ela estava ocupada demais com seu novo projeto. E ele, consigo mesmo. Consigo mesmo...
As mentes voando. Distantes. Meu Deus. O que eu sinto? E foi entre uma palavra de acusação e outra que eles se perderam. Um dou outro. Eles se perderam. Os dedos apontados. Sempre. Sem olhar para o outro. O egoísmo. E nada. E tanto. A ser dito.
Ela deitou-se. As árvores estavam ali ainda. Inalcançáveis. Deixou-se ficar. Olhando aquelas folhas que se rendiam ao vento. Ele não me conhece. Meu Deus. Ele não me conhece. Tão pouco. Tanto. E nada agora. Uma súbita sensação de paz e auto-conhecimento arrombou seu peito. E luz veio aos olhos. A epifania. Agora eu sei o que eu quero. Eu sei. Eu sou.
Então, ela inclinou-se. E voltou a sentar-se, mas não na mesma posição de antes. Olhou-o nos olhos. Acabou. Ele prosseguiu como se nada tivesse sido dito. Você ouviu o que eu disse? Acabou. Meu processo de permuta. A equidise. A fragilidade. A carne exposta. A dúvida. O sentimento. A dor. Sim eu ouvi. Você disse que acabou. É, eu disse. Então ele prosseguiu. Como se nada. Continuou. Folheou seu caderno e continuou. Ela ouviu a última música. Levantou-se. Beijou-lhe os cabelos. Pegou a bicicleta e foi embora. Sem olhar pra trás. Ela foi embora.
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3 comentários:
"Vai, se você precisa ir
Não quero mais brigar esta noite
Nossas acusações infantis
E palavras mordazes que machucam tanto
Não vão levar a nada, como sempre
Vai, clareia um pouco a cabeça
Já que você não quer conversar."
E ela se foi. sem olhar para trás. Não haviam coisas a serem ditas.
na verdade existiam palavras sufocadas.
Ele pegou o violão. E tentou ao seu máximo tentar mante-la por perto.
Ela abaixava. Abraçava o joelho. Ele ali. Tentando fazer com que sua voz distante sobresaísse o som desafinado do violão. Mas o que menos importava era ele. O violão. Eles. Ele e Ela. Estavam ali. Tentando buscar o que haviam perdido. Menos a essencia. Por onde andaria para encontrar?
Corro bastante. Ele corria. Tão longe. Procurando estrelas. Tentando trazer ela de volta.
Impossível. Ela estava demais ocupada com o seu interior. E por onde mais irei para encontrá-la? Temos esse tempo pra perder.
Ciúme. Quanto ciúme. Intenso. "Põe o dedo na ferida"
E somos tão parecidos. Ele e Ela. Buscando o que não haviam perdido. Na verdade. Tudo estaria confuso. Ela disse. Ele tentou não ouvir. Mas o som da sua voz inundou tudo aquilo. Ela. Partiu. Empurrando a bicileta. Talvez ainda para ouvir pouco mais do som que ele tentava desbravar...
"Vou ficar aqui, com um bom livro ou com a TV
Sei que existe alguma coisa incomodando você
Meu amor, cuidado na estrada
E quando você voltar
Tranque o portão
Feche as janelas
Apague a luz
e saiba que te amo..."
O fim é algo tão relativo não? Na realidade, o que parece defini-lo como fim é a consciência da súbita inexistência daquilo que até antes da última inspiração (de ar) existia.
Emprestando um verso do livro de Nilton Bonder, recitado por Clarice Niskier em "A alma imoral":
"Haverá maior solidão do que a ausência de nós mesmos?".
O fim às vezes significa a renúncia do conforto do corpo em prol do crescimento da alma.
(não concordo com as coisas que eu escrevi aqui, acredito que sejam válidas para reflexões, acredito que agir da maneira como mencionei em meus comentários seja um tanto impossível, talvez até contraditório)
Belo texto
Abraços
Gnomo
É algum trecho de Crepúsculo????Hahahahaha
Parece mtoooooooooooo!!!!
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