sexta-feira, 26 de setembro de 2008

Aos Cachos Molhados

“Cachos no banco da frente... Da cor dos seus... Mas não eram os seus. Os seus deveriam estar molhados naquele momento...”.
Os pés frios e úmidos. Como a calça, a blusa de moletom, as meias, o tênis... A bolsa acho que já secou...
Damaris e malas (no plural) molhadas pelo caminho. Caminho de chuva, e aquela dor “ainda não diaguinosticada” na perna. Eu juro que tentei, mas não consegui não ficar irritada com Deus. Pôxa! Custava continuar segurando a chuva por mais uns minutinhos?
Você também não se deixou segurar pela chuva ou pela hora. “E quando é que eu não durmo tarde?” “Não posso sair na chuva, mas to aqui, não to?!” “Quando chegarmos na rodoviária você vai trocar essa blusa por uma seca”. Não tenho... Lavei ontem a outra blusa. Não secou. Só tenho duas... “E agora?? Vai viajar molhada?” Acho que vou... “Como você é teimosa! Tinha que ter me esperado!”
De início foi seu sorriso que fez a irritação passar, depois a idéia de que você, apesar de tudo, estava ali. Não esperava. Juro. Mas tem sempre aquela “esperançazinha” de que as coisas aconteçam num passe de mágica. Dessa vez aconteceu. Você estava lá. De bicicleta e guarda-chuva. Você me alcançou.
Está certo que depois do sorriso só foram broncas e perguntas difíceis... Mas você estava ali.
Não consegui subir na bicicleta. Você não imagina o quanto foi difícil pra mim, querer, mas não alcançar o pedal e você lá na frente, se distanciando com minhas malas... A chuva ficou mais forte naquele instante (só pra ajudar...). O jeito foi gritar por você e correr, ainda que cambaleante. Agradeço à minha perna por ter me obedecido naquele momento. “Não precisava pedalar, era só descer! Como você é teimosa... Agora vai ficar tomando chuva...” Vou sim. Junto com você.
5 minutos. A insistência daquele tempo que deveria ter te esperado. “Por que você saiu antes da hora que a gente tinha combinado?” “Você sabia que esse tempo era o tempo que levaríamos guardando minha bicicleta e pegando a sua? Olha... A chuva parou!E isso tudo porque você é teimosa...” (ele realmente me acha teimosa). Acho que minhas explicações não faziam muito sentido. Vai ver porque minhas atitudes também não fizessem.
E na rodoviária você insistia: “Você já parou pra pensar que suas roupas estão todas molhadas dentro da mala?”... “E se seu celular tivesse estragado?” “Só tem duas? Você precisa de roupas novas, não acha?”. Eu sempre digo isso pro meu pai...rsrs (só meus...você permanecia sério, como uma esfinge).
A despedida teria sido mais difícil se você não dissesse com aquela cara sua (já tão conhecida minha) “Ai.......você ta toda molhada...” E me irritou com a obviedade do comentário. Mas sei que você é “fresco” e não é culpa sua.
Mudei de poltrona pra ver você se distanciando pela janela. Já sentia sua falta. E o medo que longe, você não soubesse se cuidar sozinho. Mas afinal, quem cuida de quem?
“A caráter de observação” (adoro quando você diz isso), já passei por Prudente enquanto escrevia. Troquei minhas meias e tênis molhados por botas e meias sequinhas. Comi um pedaço de pizza, e agora, no ônibus, uma linda garotinha de uns 5 anos acabou de me oferecer uma bala, eu aceitei e como agradecimento, dei duas à ela (que tinha vindo como troco da pizza. Quando ganhei não sabia o que fazer com elas. Agora vejo que tinham um propósito). A mãe comentou com a menina “Viu só? Você deu uma e ganhou duas”. Acho que ela vai ser uma boa pessoa se crescer acreditando que tudo que der, virá em dobro.
Engraçado isso né? “Isso o quê?” (você perguntaria). Não sei...Isso tudo.
Mas agora, depois desse tempo todo, tenho a resposta para todas as suas perguntas de hoje: Me perdoa? Por ter esquecido que você é diferente. Por ter pensado que agiria como qualquer outra pessoa. Não. Você não. Você veio. Você sempre está. Irmão. Amor. Amigo. Sempre.

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