quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Nua.
Se o mundo acabasse naqueles minutos, não se daria conta. O caos. Seguindo. Se impondo. A dor. O chuveiro tenta arrastar com suas águas todo aquele sangue jorrado de suas entranhas. Soluços. Desespero. O punhal cravado pelas costas. Meu Deus. Pra que tanta crueldade. Os cabelos pingando. Fora do banheiro. O quarto se encolhia. Fechava suas paredes e teto sobre ela. Comprimia seus ossos. Sufocava sua respiração. Ela levanta da cama pra tentar respirar melhor. Inútil. Não consegue. O ar fugia dela. E as paredes se fechavam. Engoliam-na. Ela pula da cama, que mal discerne dos outros objetos. A vista totalmente encoberta pelas nuvens de dor. Pega a chave. Sobe na bicicleta. E sai. Pedala. Corre. Como se estivesse fugindo. Agora na rua pode gritar mais alto. Agora, sem as paredes, pode ver a penumbra distante da rodovia. Distante. Era tudo o que precisava. O escuro. Refletindo o que havia nela. As ruas e casas passam. Para ela são todas iguais. Não vê números. Nem nomes. Os rostos não fazem sentido. O céu espalha as estrelas. Pra confundi-la. Pra aterrorizá-la. Frio. Calculista. As palavras ecoando em seu coração. Frio? Não imaginava. Nunca. Meu Deus. Pra que tanta crueldade. Meu Deus. A Lua. Escondeu-se. Não quer ver. A menina que antes sorria pra ela. A lua até. Até essa se esconde. E faz seu joguinho. Lava as mãos. Vire-se querida. A dama que bateu em sua porta. A dama. De preto e olhos profundos. A solidão. Acompanhou cada movimento desesperado daquela figura pálida. E ria. A desgraçada ria largamente da figura patética daquela moça. Enquanto ela corria. Fugia. Queria que a bicicleta voasse. Ou entrasse debaixo da terra. Só o que não queria era ser vista. E a dama. Permanece. Sempre ali. Ao lado. Pode virar-se e sair por uns instantes. Mas ela volta. Sempre volta. E se impõe.
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3 comentários:
Não sei nem mesmo por onde começar. Mas não dá para acreditar que as coisas tiveram um início. entramos em coflito daquilo que somos com aquilo que queremos. Quando descobrimos as barreiras mais densas é que acordamos para a nossa existencia. Bem mais complexo quando as coisas não dependem de nossos esforços e muito menos do esforço do outro. A coisa toda é grande. Mas não tem razão de ser. "Se dez batalhões viessem a minha rua e vinte mil soldados batessem à minha porta a sua procura. Eu não diria nada, porque lhe dei minha palavra".
E estava lá. Do meu lado. A senhora. Os sentimentos e as suas mãos. Quanta covardia me esconder pra não encarar de frente. Resistencia. É o medo de demolir o que de mais sereno foi contruído.
"Não solta da minha mão"
Ela está desesperada? Pq ela foge? De quem ela foge? Dela mesma? Muita inquietação, mas ela precisa correr para chegar ao encontro dela mesma.
Comentgario desnecessario: vim visitar seu blog pela primeira vez e me deparo com um post chamado "Nua"
Ótima primeira impressão hein..
Obrigado pela visita! Em breve novo post!
A fuga parece sempre eterna, externa. Um dia poderemos fugir para dentro de nós? Acho que correríamos o risco de esbarrar em nós mesmos. O mundo ficaria pequeno demais...
Abraços!!!
Gnomo
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